quarta-feira, 29 de junho de 2011

A filosofia de Avicena (980-1037)




<>
<>
Avicena era persa, escrevia em árabe e persa, envolveu-se positivamente na cultura islâmica. Avicena era um grande conhecedor da Metafísica de Aristóteles mais não a entendia, até que um pequeno tradado de Alfarabi lhe revelasse que a metafísica não estava focada na teologia, como ele havia acreditado.



O mais conhecido texto metafísico de Avicena é a Metafísica do “Shifa” (kitab al-Shifa’ ou livro da cura), termina no Livro X, capítulos 2-5, com reflexões sobre filosofia política. Avicena apresenta a profecia como o cume do desenvolvimento intelectual, uma compreensão de inteligíveis que não mais requer raciocínio discursivo. No capítulo 2, Avicena argumenta pela necessidade da profecia. Seres humanos precisam formar associações, as quais requerem um Legislador que deve convencer as massas e deve, portanto, ser um ser humano (há uma intenção de um contraste hostil com a concepção cristã de Cristo como filho de Deus). O Legislador deve ser um profeta:



Um profeta deve, portanto ser humano. Deve também possuir características não presentes em outros, de modo que os homens possam reconhecer nele algo que eles não têm, e as quais o diferenciam deles. Portanto, ele realizará milagres... Quando a existência desse homem ocorre, ele deve dispor leis sobre os assuntos dos homens... O primeiro princípio governando sua legislação é deixar que os homens saibam que têm um Criador, Uno e Onipotente... que Ele preparou para aqueles que a Ele obedecem uma pós-vida de bem aventurança, mas para aqueles que a Ele desobedecem uma pós-vida de miséria. Isso induzirá a multidão a obedecer aos decretos postos na boca do profeta por Deus e pelos anjos. O profeta não deve envolver os homens com doutrinas relativas ao conhecimento de Deus, pois Deus, além do fato deque Ele é um, a verdade, e não possui outro semelhante a Si mesmo. Ir, além disso, é questionar demais. Confundirá a religião que eles tenham.
Avicena diz que, para incitar os jovens a buscar a filosofia, o profeta pode inserir símbolos e sinais para estimular um verdadeiro despertar filosófico (como no caso do Alcorão).



No capítulo 3 de seu texto, Avicena fornece uma justificativa mais racionalista das prescrições islâmicas sobre aspectos do culto. O capítulo 4 justifica racionalmente outras práticas islâmicas (como a doação de esmolas, o cuidado com os pobres, os doentes e os aleijados), assim como justifica costumes de casamento e a dependência das mulheres para com os homens, uma vez que as mulheres “são menos inclinados a obedecer à razão”.



O capítulo de conclusão da obra de Avicena concerne ao califa e à organização política. Avicena obviamente considera Maomé o maior dos profetas ­- não simplesmente um entre muitos, como o era para Alfarabi- e fornece ali uma justificativa racional dos mais básicos princípios da shari’a (lei islâmica). A explicação aviceniana da filosofia política e da religião é muito mais islamizada do que a de Alfarabi. No entanto, a posição de Avicena é considerada mais racionalista.